Cherreads

Chapter 5 - Capítulo 5: A Promessa Silenciosa da Academia

Portão se ergue, alto, Caminho de dor ou saber? Sombra no futuro.

Os meses seguintes foram uma névoa de crescimento lento e aprendizado fragmentado. Meu corpo infantil ficava mais forte, mais coordenado. Comecei a engatinhar com um propósito desajeitado, depois a me firmar em móveis para ficar de pé, e finalmente a dar os primeiros passos vacilantes sob o olhar atento e encorajador de Sanae. Cada marco físico era uma pequena vitória, mas também um lembrete constante da minha vulnerabilidade e da longa jornada que ainda tinha pela frente para recuperar qualquer semelhança com a autonomia que um dia conheci.

A linguagem também progredia, embora de forma agonizantemente lenta para minha mente adulta impaciente. Passei dos balbucios imitativos para palavras isoladas – Sanae, Konoha, hito, shinobi, ita (doeu), mizu (água), gohan (comida). Eram blocos de construção rudimentares, mas me permitiam comunicar necessidades básicas e começar a decifrar as conversas ao meu redor com um pouco mais de clareza. Descobri que Sanae, apesar de sua gentileza, era uma civil comum, talvez viúva de guerra, que cuidava de algumas crianças órfãs ou de famílias necessitadas em sua pequena casa, provavelmente com algum apoio mínimo da vila.

Minha existência se resumia ao confinamento seguro entre as paredes da casa e do pequeno jardim. As saídas ainda eram raras e sempre supervisionadas. Mas minha mente viajava muito além desses limites. Eu passava horas observando pela janela, mapeando os telhados, seguindo os padrões de voo dos pássaros, notando as mudanças sutis na luz e nas sombras ao longo do dia. E, acima de tudo, observava as pessoas, especialmente os shinobi.

Eles eram uma presença constante, embora muitas vezes fugaz. Patrulhas passando rapidamente pelas ruas, ninjas solitários saltando entre os edifícios com uma agilidade de tirar o fôlego, ou grupos retornando de missões, suas roupas empoeiradas e seus rostos impassíveis. Cada vislumbre era um lembrete do mundo maior e mais perigoso que existia além da minha bolha protegida. Cada bandana com o símbolo da folha era um símbolo de poder, de dever e, em minha mente, de uma violência inerente.

Foi durante uma dessas sessões de observação silenciosa que ouvi pela primeira vez a palavra que mudaria o curso da minha nova vida: Akademī.

Sanae estava conversando na porta com outra mulher, uma vizinha talvez. A conversa era rápida, cheia de palavras que eu ainda não entendia, mas captei fragmentos sobre crianças, idade e a palavra Akademī, repetida várias vezes com um tom de inevitabilidade.

Mais tarde, quando estávamos sozinhos, Sanae me pegou no colo, seu rosto mais sério que o habitual. Ela apontou para fora, na direção geral de onde eu via mais movimento na vila, uma área que parecia mais central.

"Akira," ela começou, falando devagar, escolhendo palavras simples que ela sabia que eu poderia entender. "Logo... Akademī." Ela fez um gesto amplo com a mão. "Benkyō." Estudo. Aprendizado. "Tsuyoku naru." Ficar forte.

Meu pequeno coração deu um salto. Academia. A Academia Ninja. O lugar onde crianças aprendiam a matar. A enganar. A sobreviver. Onde eram moldadas em ferramentas de guerra. O lugar onde os protagonistas das histórias que eu lembrava começavam suas jornadas.

Senti uma onda de frio percorrer meu corpo. A Academia. Era o próximo passo lógico. Quase inevitável. Especialmente para um órfão – uma criança sem laços importantes em uma vila militarizada como Konoha. Era o caminho padrão para integrar os jovens na máquina shinobi, para transformá-los em ativos para a vila.

Mas a ideia me aterrorizava. Eu não queria aprender a lutar, a matar. Minhas memórias de uma vida pacífica, meus valores de um mundo diferente, gritavam contra isso. Queria entender este mundo, mas não ser uma engrenagem em sua máquina de violência.

Ao mesmo tempo, uma parte de mim, a parte pragmática que lutava pela sobrevivência desde o momento em que renasci, reconhecia a necessidade. Neste mundo, fraqueza era um convite ao desastre. Ignorância era uma sentença de morte. A Academia, por mais terrível que parecesse, era talvez a única maneira de ganhar o conhecimento e as habilidades necessárias para navegar neste ambiente perigoso, para ter alguma chance de proteger a mim mesmo, talvez até de encontrar um caminho diferente.

E havia a curiosidade, também. Uma curiosidade mórbida, talvez, mas inegável. Como era realmente o treinamento ninja? O que era o chakra, aquela energia misteriosa que eu sentia vagamente dentro de mim, mas não compreendia? Quem eram os professores, os outros alunos? A Academia era a porta de entrada para o cerne deste mundo estranho, e uma parte de mim ansiava por espiar através dela, mesmo que o que estivesse do outro lado fosse assustador.

Os sentimentos conflitantes me deixaram em silêncio, olhando para Sanae com olhos arregalados. Ela pareceu interpretar minha reação como medo infantil, o que não estava inteiramente errado.

"Daijōbu," ela disse suavemente, afagando meu cabelo. Está tudo bem. "Akira... ii ko." Bom menino. Inteligente. Ela sorriu, mas seus olhos ainda carregavam aquela sombra de preocupação. "Ganbatte." Faça o seu melhor. Dê o seu melhor.

Nos dias que se seguiram, a palavra Akademī pairou no ar, carregada de significado e apreensão. Comecei a observar as crianças um pouco mais velhas com novos olhos. Aquelas que corriam pelas ruas em grupos, já usando protetores de testa improvisados ou carregando bolsas com equipamentos de treino. Elas pareciam tão cheias de energia, de entusiasmo pela perspectiva de se tornarem shinobi. Eu as invejava e temia ao mesmo tempo.

Em uma de nossas raras saídas para uma parte diferente da vila – talvez para entregar algo ou visitar alguém que Sanae conhecia – passamos por um complexo de edifícios maior e mais imponente do que a maioria das construções que eu via no meu distrito. Tinha muros altos, um pátio espaçoso e, acima de tudo, um portão de entrada grande e sólido, com o símbolo da folha esculpido em destaque. Lá dentro, ouvi os sons distintos de gritos de esforço, o choque de madeira contra madeira (bokken?), e uma voz autoritária - talvez a de um instrutor.

A Academia.

Senti um arrepio percorrer minha espinha. Ali estava. O lugar que definiria meu futuro próximo. Parecia ao mesmo tempo mundano – apenas mais um conjunto de edifícios – e carregado de um significado sinistro. Era uma escola, sim – mas disfarçada de fábrica de soldados.

Observei algumas crianças entrando e saindo pelo portão. Algumas pareciam animadas, outras nervosas, outras entediadas. Eram apenas crianças, como eu. Mas logo seriam ensinadas a tirar vidas, a suportar dores inimagináveis, a colocar a missão acima de tudo.

Sanae me puxou gentilmente pela mão, afastando-me dali. Ela não disse nada, mas senti sua apreensão. Ela sabia o que aquele lugar representava. Talvez tivesse perdido alguém que passou por aqueles portões e nunca mais voltou o mesmo, ou nunca mais voltou.

Naquela noite, deitado no futon, olhando para as sombras dançando no teto, tomei uma decisão silenciosa. Eu não podia evitar a Academia – ela era meu destino neste mundo. Por enquanto. Mas eu não precisava me entregar a ele cegamente. Eu não precisava me tornar o que eles queriam que eu me tornasse.

Eu iria para a Academia. Eu aprenderia. Eu ficaria mais forte. Mas faria isso em meus próprios termos, tanto quanto possível. Usaria minhas memórias, minha perspectiva única, não para me tornar uma arma melhor, mas para encontrar um caminho diferente. Um caminho onde eu pudesse sobreviver sem perder completamente quem eu era, ou quem eu lembrava ter sido.

Era uma promessa frágil, feita na escuridão por uma alma deslocada em um corpo de criança. Uma promessa feita contra um sistema inteiro, contra a essência brutal daquele mundo. Mas era a única coisa a que eu podia me agarrar.

Olhei para a janela, para o céu noturno salpicado de estrelas desconhecidas. A Academia era uma sombra no meu futuro, um caminho de dor ou saber, ou ambos. Eu não sabia o que me esperava atrás daquele portão imponente, mas enfrentaria aquilo. Com medo, sim, mas com uma nova e silenciosa determinação. A promessa estava feita.

More Chapters