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Sussurros de Éter

Anelizy_Rafaela
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Synopsis
Em um mundo esquecido pelo tempo, onde a magia sussurra em vez de gritar e as lendas são guardadas pelas árvores e pelos ventos, o equilíbrio começa a ruir. Eter, um reino antigo e silencioso, guarda segredos que nunca foram escritos — apenas sonhados. Diz-se que os Deuses do Eter, entidades de poder insondável, jamais caminham entre os mortais... a não ser que o Bizarro esteja prestes a acontecer. E agora, sinais estranhos começam a emergir: sombras que se movem por vontade própria, cidades que dormem acordadas, criaturas que não deviam existir. Quando um grupo de viajantes improváveis se vê no centro de uma profecia que ninguém lembra ao certo, mas que tudo indica estar despertando, o mundo começa a mudar — de forma lenta, absurda e perigosamente caótica.
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Chapter 1 - O começo de tudo.

𝘼𝙝 𝙢𝙖𝙞𝙨 𝙙𝙚 𝙢𝙞𝙡 𝙖𝙣𝙤𝙨...

Em um mundo pequeno, esquecido por muitos e lembrado apenas por lendas, existia um lugar chamado Éter. Um mundo de magia silenciosa, de céus profundos e terras que cantavam sob os pés dos antigos. Nesse mundo, sussurrava-se uma antiga profecia — não escrita em pedra, mas guardada nas memórias dos ventos, nas raízes das árvores milenares, e nos olhos dos que sonhavam acordados.

Essa profecia falava sobre seres de poder incompreensível, os Deuses do Éter. Criaturas tão grandiosas que não se ajoelhavam nem mesmo diante do tempo. Segundo a lenda, esses deuses não caminhavam entre os mortais... a menos que o Bizarro estivesse prestes a acontecer.

O Bizarro...

Uma palavra que parecia brincar com o desconhecido, mas que carregava um medo profundo.

O Bizarro era uma criatura — ou talvez, algo além do que qualquer ser poderia chamar de "criatura".

Um devorador.

Um vazio vivo.

Um terror com forma e fome.

Diziam que esse ser havia sido aprisionado… ou melhor, afundado.

Lançado em um lugar onde tudo era nada.

Sem vida, sem som, sem cor.

Um abismo onde nem o tempo ousava passar.

E mesmo ali... ele dormia. Esperando.

Mas o mundo esquece.

O mundo sempre esquece.

E assim, os Deuses do Éter adormeceram junto à lenda.

Até que um dia... ele desperte.

E quando ele despertar — dizem — nove corações serão reunidos.

Nove almas, entrelaçadas pelo destino, sangue, dor ou acaso.

Esses corações seriam a chave, o selo, o chamado.

Mas... como saber que o Devastador desperta?

A resposta virá com os Nove Desastres.

Sinais. Gritos da terra. Avisos do próprio Éter.

1. O Sopro do Núcleo

A terra tremerá. Não como um simples terremoto, mas como um suspiro vindo das profundezas do mundo.

O chão se abrirá como uma ferida viva.

Dizem que é o som de algo fugindo do centro da terra.

2. O Mar Invertido

O oceano... secará.

Não de uma vez, mas aos poucos, como se estivesse sendo bebido por um gigante invisível.

E nas profundezas expostas, ruínas esquecidas e segredos afogados voltarão à tona.

3. A Chuva Ardente

Cairá do céu uma tempestade de fogo.

Não durará horas, mas seus minutos serão eternos.

Onde tocar, deixará brasas vivas e marcas no ar.

Um aviso claro: o céu também chora em chamas.

4. O Vento Antigo

Uma tempestade de vento se erguerá, sem nuvens, sem chuva, apenas furor e sussurros antigos.

Ela varrerá vilas, árvores e memórias.

E nas ruínas, só restará o eco de uma língua esquecida.

5. A Lua Fraturada

Em uma noite clara, a lua não será mais a mesma.

Uma mancha escura e vermelha surgirá nela, como sangue sob uma pele frágil.

Ela parecerá... ferida.

E os que olharem demais, ouvirão sussurros que não pertencem ao mundo.

6. As Florestas Andarilhas

Em uma única noite, as florestas se moverão.

Raízes se arrastarão como pernas, galhos farão o ar gemer.

E onde havia cidades... talvez só reste musgo e sombra.

7. A Aurora da Dor

O céu se vestirá de cores indescritíveis, como uma aurora mágica.

Mas com ela, virá um canto.

Um lamento.

Uma canção triste que ecoará pelos vales, cidades e almas.

Alguns cairão em pranto sem saber por quê.

8. O Buraco no Céu

O firmamento se rasgará como tecido velho.

Um olho negro, girando como um redemoinho de estrelas mortas, surgirá.

Não cairá nada dele, mas será como ser observado por algo que jamais deveria ver você.

9. O Despertar Silencioso

E então...

Sem alarde, sem trovões,

sem glória...

Ele acordará.

Com olhos famintos.

Com o mundo como prato.

Mas é só uma lenda, não é?

Uma história para assustar crianças.

Para fazer adultos rirem e anciãos suspirarem. E mesmo assim, alguns ainda observam o céu.

Alguns ouvem o vento.

E outros... sentem o coração bater mais forte quando a terra treme.

Porque no fundo, talvez...

O Éter lembre.

E talvez — só talvez — o Bizarro também.

Em um pequeno vilarejo de casas baixas e ruas de pedra chamadas Netroy, onde os telhados eram cobertos por musgo e as janelas sorriam com cortinas floridas, havia uma calmaria doce — como se o tempo andasse devagar por escolha própria.

Lá, entre o cheiro constante de pão fresco e as árvores que balançavam como se sussurrassem segredos antigos, havia um restaurante singelo, mas charmoso, com sinos que tilintavam sempre que alguém entrava.

Sentado à mesa do fundo, envolto por sombras e murmúrios abafados, estava Eruel, um velho de presença imponente e ao mesmo tempo pacífica. Tinha longos cabelos grisalhos que caíam como cascatas prateadas, e uma barba espessa que escondia quase todo o sorriso — um sorriso que surgia raramente, mas quando vinha, trazia paz. Seu manto de mangas largas, bordado com runas douradas e símbolos que pareciam brilhar ao sol, era notável até mesmo em meio aos viajantes mais excêntricos. Ele sempre andava com uma lança de madeira antiga, cujo cabo tinha marcas que lembravam histórias cravadas a fogo.

Com passos lentos e firmes, Eruel se levantou, caminhou até o balcão e entregou algumas pequenas manas cristalizadas — uma forma de pagamento antiga, mas aceita pelos que sabiam do que se tratava. Sem dizer muito, apenas acenou com a cabeça e deixou o restaurante.

Seguiu por um caminho de pedras até a saída do vilarejo, onde o vento assobiava entre as árvores como se saudasse o velho. A poucos passos dali, à beira de um bosque encantado pelas cores do entardecer, alguém o esperava.

Uma garota de postura firme e olhos atentos — Mealis. Ela parecia ter saído de um sonho: pele bronzeada, olhos dourados como fogo líquido, e cabelos brancos ondulados que dançavam ao menor sopro de vento. Seu vestido cinturado, de tecido firme e elegante, tinha uma abertura discreta na lateral, permitindo agilidade e charme em igual medida.

— E então? Alguma coisa? — perguntou ela, com a voz firme e direta, enquanto cruzava os braços.

— Sim... um jovem no restaurante falava sobre a lenda. — disse Eruel, parando ao seu lado. — Ele parecia saber mais do que devia... mencionou ter lido sobre isso na biblioteca do vilarejo.

— E onde fica essa biblioteca? — perguntou Mealis, arqueando uma sobrancelha.

Eruel coçou a barba, hesitante, com um leve sorriso desconfortável.

— Não muito longe daqui, Mealis...

Ela estreitou os olhos, desconfiada.

— Que cara é essa? Comeu algo estragado, velho?

Antes que ele pudesse responder, uma terceira voz surgiu às costas da garota:

— Nós não vendemos comida estragada, senhorita.

Assustada, Mealis deu um salto e se virou, já com o olhar afiado como uma lâmina. Mas logo se acalmou ao ver o jovem que surgira.

Ele era alto, mais do que ela, e tinha um ar enigmático que flutuava como névoa ao seu redor. Pele clara como porcelana, olhos azuis que brilhavam como um céu encantado, e cabelos castanhos claros, quase dourados nas pontas. Usava uma túnica fluida e clara, com detalhes florais em marrom e azul-acinzentado, e calças justas azul-escuras. Um traço assimétrico cortava o traje, dando um ar místico e refinado. Ele tinha uma expressão serena, quase entediada — como quem vê o mundo de longe.

— Quem é você?! — rosnou Mealis, ainda em guarda.

— Nika. E vocês são...? — respondeu ele com um pequeno sorriso calmo, quase divertido.

— Mealis. E o velho é o Eruel. — respondeu ela, voltando ao tom natural.

Eruel sorriu.

— Você... era você que falava sobre a lenda, não era? — perguntou o velho.

— Sim, era eu. Percebi que vocês ficaram interessados. — disse Nika, ainda cruzando os braços. — Aposto que estão aqui por causa da profecia, não?

— Então você também acredita? — questionou Mealis, surpresa.

— Acredito, sim. Quando terminei de falar da lenda, notei que o velho sumiu... não resisti em seguir vocês. Mas me diga, por que tanto interesse? — perguntou, agora encarando-os com seriedade.

O vento soprou mais forte. As folhas forraram o chão, como se também esperassem a resposta.

— Não é óbvio? — respondeu Mealis, com o olhar flamejante. — A profecia... os nove desastres já estão acontecendo! No reino de onde vim, existe um livro antigo. Nele está escrito que nove corações despertarão uma criatura indescritível... algo capaz de acabar com tudo.

— Certo... e como vocês planejam impedir isso? Não dizem que só deuses podem enfrentá-la? — rebateu Nika, curioso.

— Existe um ritual. Um antigo. Dizem que se reunirmos os nove corações antes do despertar total... podemos destruir a criatura antes que tome forma. E eu vou fazer isso. — declarou Mealis, com um brilho de determinação nos olhos.

Nika a observou por um instante... e então sorriu com leveza.

— Entendi... nesse caso, vou com vocês.

— Você não decide isso sozinho! — disse Mealis, irritada.

— Ora, eu contei o que eu sabia... e agora sei o que vocês vão fazer. Não parece justo que eu continue com vocês? — retrucou ele, arqueando uma sobrancelha.

Eruel olhou os dois com um olhar sereno e sábio. Depois de um instante de silêncio, Mealis suspirou fundo.

— Tudo bem... se quer vir, venha. Mas não atrapalhe. — disse ela, já se virando em direção ao bosque.

Nika sorriu com um brilho oculto no olhar, e rapidamente a seguiu. Eruel caminhou atrás, sua lança cravando suavemente a terra.

O caminho seguia deserto, sem uma alma viva por perto. O vento cortava as árvores com assobios estranhos, e o sol, já cansado, mergulhava lentamente no horizonte.

A luz dourada dava lugar a tons azulados e frios — e o frio veio rápido, rastejando pelos tornozelos, subindo pela espinha.

— Essa noite vai ser bem fria pelo jeito... — comentou Nika, cruzando os braços e tentando manter o calor preso ao corpo.

Mas o frio não era o único aviso.

A trilha mudou. As pedras deram lugar a folhas apodrecidas. O ar ficou mais denso, mais parado. Um bosque surgiu à frente — e não era um bosque qualquer.

Era escuro demais. Silencioso demais. Vivo... demais.

Mealis andava com o olhar inquieto, sentia a pele arrepiar, sentia olhos invisíveis colados em sua nuca. O silêncio que antes era calmaria, agora soava como ameaça.

— Vocês não tão sentindo? — sussurrou, quebrando o silêncio com um nó de inquietação na voz. — Como se tivesse... alguma coisa observando a gente.

— Tirando o frio que tá mordendo minha bunda? Nada de estranho. — murmurou Eruel, ajeitando o manto com desprezo.

— Eu não tô falando do frio, Eruel! — retrucou Mealis, irritada. — É como se alguma coisa estivesse à espreita... esperando.

E foi como se o universo respondesse imediatamente.

Do meio da escuridão, um braço surgiu — longo, grotesco, coberto de uma pele negra como carvão queimado, com garras curvadas como foices.

Tentou agarrar Mealis com brutalidade, mas Eruel foi mais rápido. Com um giro firme da lança, cortou o braço no ar. Um grunhido horrendo ecoou — agudo, distorcido, como metal arranhando dentes humanos.

Todos se arrepiaram. Correram sem olhar para trás.

Mais adiante, com a respiração falha, Mealis caiu. O braço estava dilacerado, um arranhão horrível ardendo sob o luar.

— Mealis?! Tá tudo bem?! — Nika se ajoelhou ao seu lado, aflito.

— Eu... tô bem. Só um arranhão. A gente precisa continuar...

Eva parou e olhou para o bosque, olhos semicerrados. — Aquilo não era humano.

— Em todos os meus anos de vida, nunca vi um braço tão feio. — murmurou Eruel. — E olha que já vi uns bons desastres genéticos por aí.

Continuaram. O céu escurecia cada vez mais. O frio se tornou algo quase ofensivo, cortante. Às quatro da madrugada, a floresta parecia um túmulo aberto.

Mealis tropeçava, exausta. Eva percebeu.

— A gente precisa parar. Ela não está bem.

Mas antes que pudessem reagir, Nika olhou para o lado — e congelou.

— Tem alguém ali... no bosque. — disse, apontando.

— Alguém? Aqui? — Eva franziu a testa, desconfiada.

Sem pensar duas vezes, Nika correu em direção à silhueta. Mealis, preocupada, foi atrás. Eva xingou em voz baixa e os seguiu. Eruel, suspirando fundo, entrou também.

— Nika! Que ideia estúpida foi essa?! — gritou Mealis.

— Talvez seja alguém que possa ajudar! — respondeu, ofegante.

— Aqui?! De madrugada? No meio de um bosque que fede a morte? Genial. — tagarelou Eva.

Então, entre as árvores, surgiu ele.

O estranho não parecia ter medo do escuro — parecia pertencer a ele.